Um estudo desenvolvido na Fiocruz Pernambuco traçou
a rota da chegada do vírus zika ao Brasil, preenchendo uma lacuna na literatura
sobre o tema.
Entre as hipóteses mais frequentes, acreditava-se
que o vírus teria entrado no país durante a Copa do Mundo de 2014 (12 a 13 de
julho), trazido por viajantes africanos. Outra teoria afirmava que a introdução
teria ocorrido durante o campeonato mundial de canoagem, realizado em agosto de
2014, no Rio de Janeiro, que recebeu competidores de vários países do Pacífico
afetados pelo vírus zika.
No entanto, segundo o estudo Revisiting Key
Entry Routes of Human Epidemic Arboviruses into the Mainland Americas through
Large-Scale Phylogenomics (Revisitando as principais rotas de entrada
de arbovírus epidêmicos em humanos no continente americano por meio de
Filogenômica de grande escala) o vírus zika, originário da Polinésia Francesa,
não veio de lá diretamente para o Brasil. Antes ele migrou para a Oceania,
depois para a Ilha de Páscoa - de onde foi para a região da América Central e
Caribe- e só então chegou ao Brasil, no final de 2013. “Isso coincide com o
caminho percorrido pelos vírus dengue e chikungunya”, explica um dos
investigadores, o pesquisador Lindomar Pena.
O resultado, aponta para o fato que a América
Central e Caribe são importantes rotas de entrada para arbovírus na América do
Sul. Uma informação estratégica para a vigilância epidemiológica e para adoção
de medidas de controle e monitoramento dessas doenças, especialmente em regiões
de fronteira com outros países, portos e aeroportos, segundo o artigo.
Em todos os casos brasileiros estudados, o
ancestral em comum dos vírus é uma cepa do Haiti, país sabidamente afetado pela
tripla epidemia de zika, dengue e chikungunya. Imigrantes ilegais vindos do
Haiti e militares brasileiros em missão de paz naquele país podem ter trazido o
vírus zika para o Brasil. Em consonância com esses resultados, estudos
anteriores haviam confirmado casos de chikungunya no Brasil importados do Haiti
e da República Dominicana, destacando a América Central e Caribe como rotas
importantes para a introdução desse arbovírus no Brasil.
Outra conclusão do estudo é que houve múltiplas
introduções, independentes entre si, do vírus zika no Brasil. Isso muda a
crença anterior de que um único paciente poderia ter trazido a doença, que
depois teria se espalhado pelo país.
Metodologia
O estudo contou com a participação dos
pesquisadores da Fiocruz Pernambuco Lindomar Pena, Túlio Campos, Gabriel Wallau
e Antonio Rezende e de um colaborador da Universidade de Glasgow, Alain Kohl.
As análises se basearam num total de 4.035 amostras de genomas completos dos
três vírus disponíveis em bancos de dados públicos e foram usados algoritmos e
ferramentas computacionais de última geração. A pesquisa contou com
financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco (Facepe) e envolveu também os vírus dengue e chikungunya. Os
resultados, em anexo, foram publicados no International
Journal of Genomics.
Revisiting
Key Entry Routes of Human Epidemic Arboviruses into the Mainland Americas
through Large-Scale PhylogenomicsT
Tulio Campos, Ricardo
Durães-Carvalho, Antonio Rezende, Otávio Valério
Carvalho, Alain
Kohl, Gabriel
Luz Wallau, and Lindomar José Pena
Received
28 March 2018; Revised 24 July 2018; Accepted 2 August 2018
Academic Editor: Corey Nislow
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