Dados do governo mostram que metade das crianças não recebeu a vacinação básica em 2020. Um dos motivos seria o medo de contaminação pelo novo coronavírus
Igor Sobral/Prefeitura de Pelotas-RS
Muito
pais deixaram de vacinar as crianças para doenças como sarampo e poliomielite
neste ano
A
notícia da suspensão dos testes com a vacina contra a Covid-19 desenvolvida
pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca trouxe alguma apreensão
para a população brasileira que espera com ansiedade pela imunização. Mas os
deputados especializados no assunto, assim como os técnicos da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), parceira do laboratório no Brasil, afirmam que
o procedimento é normal e indica a seriedade do estudo.
A
vacina britânica foi suspensa após uma voluntária ter desenvolvido um problema
grave de saúde que ainda está sendo investigado para saber se foi causado pela
vacina ou não. No Brasil, 5 mil pessoas já foram vacinadas nos testes.
O
deputado Pedro Westphalen
(PP-RS), que é médico e coordenador da Frente Parlamentar do Programa
Nacional de Imunizações, lembra que existem outras vacinas em estudo como a
chinesa, que está sendo testada pelo Instituto Butantan.
“A
Sinovac está bastante avançada e não teve nenhuma reação. E tem a expectativa
de que nós possamos já em janeiro estar vacinando pelo menos os grupos de
risco, o pessoal da saúde, da linha de frente, idosos. São acontecimentos
normais neste período de testes. Mas não há motivo nenhum para maiores
preocupações”, garante Westphalen.
Para
o deputado Giovani Cherini
(PL-RS), as pessoas têm que adotar práticas saudáveis para aumentar sua
imunidade natural. “Todo mundo esperando vacina. Vacina leva dez anos para
sair. Eu também gostaria que tivesse uma vacina amanhã. Mas a vacina do Ebola
levou treze anos, a maioria das vacinas, 5. E a vacina da Aids não existe.”
Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
Westphalen: “Baixou muito o nível de vacinação no Brasil de outras patologias”
Sem
vacinas básicas
Mas alguns deputados estão mais preocupados com os dados do governo que mostram
que metade das crianças não recebeu a vacinação básica em 2020. Um dos motivos
seria o medo de contaminação pelo novo coronavírus.
Para
Westphalen, isso traz outros problemas além da Covid-19. “Baixou muito o
nível de vacinação no Brasil de outras patologias. Hoje tem 21 estados com
sarampo, o que estava praticamente erradicado aqui no Brasil. Estamos na
iminência de voltar a poliomielite”, lamenta. “As vacinas que têm que atingir
um nível de 95% de vacinação para dar tranquilidade em relação à imunização da
comunidade, algumas estão só com 50%.”
Westphalen
defende a realização de campanhas pelo governo e o uso das escolas públicas e
dos agentes comunitários de saúde para vacinação.
Médico
infectologista, o deputado Alexandre
Padilha (PT-SP) afirma que a necessidade de aumentar a cobertura vacinal é
uma das justificativas para a manutenção de um orçamento maior para a Saúde em
2021.
Reportagem
- Sílvia Mugnatto
Edição - Natalia Doederlein
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