Dos 19 contratos, 12 estavam
nas fases iniciais, quando ainda há treinamento de equipes e elaboração de
projetos, sem que haja o fornecimento do produto
Por: Folhapress em 16/07/19 às
15H58, atualizado em 16/07/19 às 16H03
Foto: Tomaz Silva/Agência
Brasil
O Ministério da Saúde
suspendeu uma série de contratos que envolviam parcerias entre laboratórios
públicos e privados para fabricação de 19 medicamentos e uma vacina de
distribuição gratuita na rede pública. Entre eles, estão remédios contra
diabetes, câncer, insuficiência renal crônica,
Parkinson e a imunização
tetraviral, que previne contra sarampo, rubéola, caxumba e catapora. A medida
envolve sete laboratórios públicos, os quais haviam firmado contratos por meio
das chamadas parcerias de desenvolvimento produtivo (PDPs), espécie de acordo
que visa a transferência de laboratório privado para um público. O objetivo é
permitir a produção no país de produtos considerados estratégicos para o SUS.
Dos 19 contratos, 12 estavam
nas fases iniciais, quando ainda há treinamento de equipes e elaboração de
projetos, sem que haja o fornecimento do produto. Outros sete estavam nas
últimas duas etapas, quando há transferência de tecnologia para produção e
compra dos produtos pelo Ministério da Saúde.
A decisão por suspender os
contratos foi publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo e confirmada pela Folha
de S.Paulo. Entre os laboratórios públicos que tiveram contratos suspensos
estão Bahiafarma, Bio-manguinhos, Tecpar, Funed, Butantan e Furp. A medida
também afeta dez fabricantes privados.
A reportagem teve acesso à
íntegra de um ofício enviado à Bahiafarma que confirma a decisão. No documento,
o ministério cita pareceres da consultoria jurídica que recomendam a suspensão
das PDPs "até que seja melhor examinada a sua juridicidade".
Em nota, o Ministério da Saúde
disse que a suspensão ocorre de forma regular para que laboratórios públicos
apresentem medidas "para reestruturar o cronograma de ações e
atividades". A pasta atribui a suspensão a recomendações de órgãos de
controle como o Tribunal de Contas da União e Controladoria Geral da União,
decisões judiciais, além falta de cumprimento dos cronogramas previstos e de
investimentos na estrutura.
Laboratórios, porém, afirmam
terem sido pegos de surpresa pela medida. Alguns deles, como o Bahiafarma,
afirmam que pretendem ir à Justiça para recorrer da suspensão."Foi uma
canetada pura e simples", afirma Ronaldo Dias, presidente do laboratório e
representante da Alfob, associação que reúne os fabricantes públicos do setor.
"É uma arbitrariedade jurídica estrondosa."
Para Dias, a medida pode gerar
novo ciclo de desabastecimento. "Não tem tempo hábil do ministério iniciar
uma compra pública hoje e fornecer em setembro", afirma ele, que prevê
impacto também no preço a ser pago pelo SUS para compra dos remédios fora da
parceria. "O impacto disso é prioritariamente o paciente. Você tira a
garantia de abastecimento a um preço que o SUS possa pagar. Quando faz uma PDP,
o preço baixa", afirma.
"Um segundo impacto é a
cadeia econômica. Quantas pessoas vão ser demitidas? É o desmonte do complexo
industrial público do Brasil. "Questionado, o ministério diz que vem
realizando compra dos sete remédios e vacina que já estavam sendo produzidos
por outros meios para garantir o abastecimento.
Segundo a pasta, a suspensão
do contrato com a Bahiafarma para produção de insulina ocorreu devido a atraso
nas entregas do produto. "Trata-se de uma medida regular e recomendada
pelos órgãos de controle, além de estar prevista no marco regulatório das PDPs
e realizada com normalidade. Toda e qualquer parceria que estiver em desacordo
é suspensa para avaliação", informa.
Segundo o ministério, desde
2015, 46 PDPs passaram por processos de suspensão. Atualmente, 87 delas estão
vigentes. Além da Bahiafarma, a reportagem procurou outros três laboratórios
públicos que tiveram contratos suspensos e que estavam nas fases mais avançadas
de parcerias.
Em nota, o Tecpar disse estar
em negociação com o Ministério da Saúde acerca da suspensão e que já enviou
esclarecimentos à pasta sobre seus projetos. Questionados, Bio-manguinhos e
Farmanguinhos ainda não responderam. Uma reunião entre parte dos laboratórios e
ministério está prevista para esta quarta (17).
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